Visão Integral
O que não comemos...
Nos dias correntes, o simples ato de deglutir um alimento é visualizado de uma diferente perspectiva por culturas, sociedades, religiões distintas. Sabemos que a alimentação humana tem sofrido um conjunto de grandes modificações ao longo da nossa história, e que os desafios que se colocam na atualidade são verdadeiramente desafiantes.
Olhar para a alimentação humana, na atualidade, é olhar para um prisma de reflete dimensões da extrema complexidade sobre este ato. Sabemos que a alimentação é influenciada por múltiplos contextos, entre eles, os hábitos que os nossos pais/cuidadores nos transmitiram, o estado sócio-económico e o estado emocional. Todos estes determinantes influenciam no dia-a-dia a forma como cada humano se alimenta.
Mas como podemos saber se o que estamos a ingerir é saudável, nutritivo, seguro?
A resposta é difícil, principalmente a partir do momento em que a revolução industrial aconteceu em meados do século passado. A verdade é que esse paradigma irá influenciar a nossa alimentação de forma irredutível, principalmente pensando nos novos alimentos que surgiram desde essa altura. Mais tecnologia permitiu um maior grau de processamento dos alimentos, que aparentemente foi muito bem recebido pela sociedade e que acabaram por desaguar numa massiva produção.
Esses alimentos foram cada vez mais vulgarizados na alimentação contemporânea e o número de interações químicas foi crescendo. A indústria alimentar tornou-se um verdadeiro laboratório de experiências, que culmina em múltiplas versões de géneros alimentícios que muito pouco tem de alimentos. Hoje em dia temos alimentos que tem listas com mais de trinta ingredientes, que por sua vez tem uma múltipla interação entre si, bastantes dessas interações desconhecidas no que diz respeito à saúde humana.
Então e os alimentos que não comemos?
São aqueles que serviam como porta-estandarte da agricultura antes da revolução industrial, aqueles aos quais não se faz publicidade nas redes sociais e muito menos nos supermercados, são os parentes pobres de toda esta mudança, mas que são os mais verdadeiramente ricos no que concerne a originalidade da palavra alimento e ao seu valor nutricional.
Por Ivo Ferreira - Nutricionista